‘Eu quero justiça!’, pede pai de bebê que morreu em maternidade

"Eu quero justiça!", disse o garçom William Samuel dos Santos, 28 anos, visivelmente abatido, minutos antes de entrar na capela do Cemitério Municipal de Brotas, na manhã deste sábado (22). Em seguida, ele se posicionou ao lado da pequena urna funerária, baixou a cabeça e fixou o olhar, ao mesmo tempo que acariciava o rostinho de Laila Maria, sua primogênita e um dos bebês que morreu antes do parto na Maternidade Albert Sabin, no bairro de Cajazeiras, em Salvador. Os óbitos ocorreram no mesmo dia e os pais acusam a instituição de negligência médica em ambos os casos, ocorridos na terça-feira (18), já que as crianças eram consideradas saudáveis. "Não é possível que ninguém seja responsabilizado. Minha filha e a outra criança também que morreu estavam muito bem de saúde. Eles disseram que Laila estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço, sendo que na ultrassonografia não acusou nada disso", disse ele. William disse ainda que outras três mortes ocorreram na maternidade. "O que as pessoas falaram pra mim hoje é que três bebês morreram de segunda até hoje. Eu vi uma mulher saindo chorando só com a roupa de uma criança", relatou o garçom. O CORREIO entrou em contato com a Secretária de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e aguarda resposta. O enterro de Laila começou com uma hora de atraso, às 11h30. A mãe, Aila Daltro, 26, ainda continua internada na maternidade. "Ela queria vir, mas não está com a saúde boa. Estamos muito abalados, porque desejávamos muito a nossa filha", disse. Sindicância A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) vai instaurar uma sindicância para apurar as mortes na maternidade. Em nota, a pasta lamentou a morte da criança. "A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia e a direção da maternidade Albert Sabin estão consternadas com a situação, pois toda maternidade é um local que simboliza vida. O falecimento causa dor e tristeza para os familiares e toda a equipe assistencial", diz a nota. A Sesab diz ainda que a família está recebendo assistência psicológica. "A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia fará a instauração imediata de sindicância para apurar detalhadamente o fato e identificar a eventual omissão e/ou má conduta por parte dos profissionais. A família está sendo assistida pela equipe de psicólogos e assistentes sociais da unidade", diz a pasta. Entenda o caso Segundo William, Ailla precisou ir até a maternidade três vezes para ser internada. "No sábado [15], minha esposa compareceu à maternidade com fortes dores. Fizeram o exame de toque três vezes e mandaram ela ficar caminhando, para estimular, e, depois de quase 10 horas de espera, liberaram ela", relembrou. No domingo (16), o procedimento teria se repetido, com a diferença de que foram dados medicamentos à gestante, a fim de amenizar sua dor. Quando retornou na segunda-feira (17), já com fortes contrações, ela finalmente foi internada. "Falaram que a dilatação estava em 5 cm e, ainda assim, se recusaram a fazer a cesárea, mesmo minha esposa implorando para fazer. Quando chegou a noite, uma enfermeira olhou e disse que os batimentos do bebê estavam diminuindo e que achava que ele estava em sofrimento fetal", continuou William. No segundo caso, a criança que veio a óbito ainda na barriga se chamaria Tainá. Conforme o relato da mãe, Daiane de Jesus, 41, foram necessárias duas idas à Maternidade Albert Sabin antes de ter sido internada. "Eu vim numa consulta no dia 12, e a menina começou a contrair. Aí, quando eu cheguei na emergência, a médica disse pra mim que não poderia me internar, porque só estava com 'um dedo' de dilatação e, como eu já tinha tido outros filhos por parto normal, aquilo, pra ela, não era nada", contou Daiane, que já é mãe de sete filhos, sobre a experiência no dia 12. A gestante, então, retornou à maternidade na terça-feira. "A barriga tava dura, e eu comecei a sentir dor. […] Aí, quando eu cheguei aqui e fui escutar o coração da criança, ela já tava sem sinal vital", recordou a mulher, informada de que a causa da morte foi descolamento da placenta. "Fizeram uma cesárea em mim com urgência, porque eu estava com hemorragia. É uma coisa que poderia ter sido feito no dia 12, que eu estava contraindo, porém sem dor", lamentou a mulher.Correio 24hs

Deixe uma resposta