SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os casos de dengue subiram 40% na cidade de São Paulo, entre os dias 6 e 13 de março, com 14.303 novos casos no período.
Até o dia 6, o município registrava 35.417 casos. O boletim epidemiológico divulgado nesta segunda-feira (18) com dados provisórios contabilizados até quarta-feira (13), indica que a capital paulista já chega a 49.721 casos.
O número representa uma incidência de 414,1 casos por 100 mil habitantes, o que fez o prefeito Ricardo Nunes (MDB) declarar emergência por epidemia de dengue. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o coeficiente igual ou superior a 300 casos por 100 mil habitantes indica situação epidêmica.
O boletim aponta que, só este ano, até o dia 13, 11 pessoas já morreram na capital devido à doença.
Os dados do boletim também indicam um salto de 31 para 51 distritos do município em epidemia no mesmo período. A zona norte lidera, com 15 deles: Cachoeirinha, Casa Verde, Brasilândia, Freguesia do Ó, Jaçanã, Tremembé, Anhanguera, Perus, Jaraguá, Pirituba, São Domingos, Tucuruvi, Vila Guilherme, Vila Maria, Vila Medeiros.
Na zona leste, estão em situação epidêmica 14 distritos: Cidade Tiradentes, Ermelino, Ponte Rasa, Guaianases, Lajeado, Itaim Paulista, Vila Curuça, Cidade Lider, Itaquera, Parque do Carmo, São Mateus, São Rafael, São Miguel, Vila Jacuí.
Na lista de distritos epidêmicos também estão 11 da zona oeste. São eles: Butantã, Raposo Tavares, Vila Sônia, Alto de Pinheiros, Barra Funda, Vila Jaguara, Jaguaré, Lapa, Perdizes, Pinheiros, Vila Leopoldina.
Outros sete são na região sudeste: Água Rasa, Belém, Arthur Alvim, Cangaíba, Penha, Vila Matilde, São Lucas; e quatro são na zona sul: Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim Ângela, Jardim São Luiz.
O distrito com maior incidência de dengue é o Jaguara (com 5.240 casos por 100 mil habitantes), seguido por São Domingos (1.524), São Miguel (1.286) e Itaquera (1.280) e Vila Leopoldina (1.179).
O coeficiente de incidência é a divisão de casos confirmados pela quantidade de habitantes. É o critério da OMS e do Ministério da Saúde para a classificação da doença em relação à população.
Já o maior número de casos absolutos está em Itaquera (2.734), seguido de Tremembé (1.813), Campo Limpo (1.374), São Domingos (1.322), e Jardim Ângela (1.303).
Segundo o infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Julio Croda, as condições climáticas da capital nas últimas semanas fazem com que o aumento da dengue seja esperado, e podem contribuir para que o boletim da próxima semana epidemiológica aponte para uma curva ainda maior de crescimento de casos.
"Estamos na época natural de aumento de casos, que vai até o final de abril. Com o calor associado à chuva, não me surpreende que eventualmente tenhamos número maior de casos na semana que vem", diz.
Com 34,7°C, a cidade de São Paulo teve no sábado (16) o dia mais quente do ano e a maior temperatura para o mês de março em ao menos 81 anos, desde que o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) passou a fazer a estatística, em 1943.
Segundo Croda, a diferença, neste ano, é que, mesmo no período interepidêmico (isto é, entre duas epidemias), São Paulo e a região centro-sul do Brasil já apresentavam ondas de calor, o que fez com que a quantidade de mosquitos aumentasse já no período.
"Antes de janeiro, tivemos uma frequência maior de Aedes aegypti", afirma.
Segundo um estudo do pesquisador Christovam Barcellos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz, divulgado na última semana, a explosão de casos de dengue no Brasil este ano tem relação direta com as mudanças climáticas.
De acordo com o artigo, publicado na revista Scientific Reports, a expansão da doença nessas regiões está diretamente associada à frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos, como secas e inundações. O autor também cita a degradação ambiental, especialmente no cerrado, como importante influência.
"Nessas regiões que estão sofrendo com altas de temperatura, também temos visto um desmatamento muito acelerado. E dentro do cerrado brasileiro há as cidades que já têm ilhas de calor, áreas de subúrbio ou periferias com péssimas condições de saneamento, tornando mais difícil combater o mosquito", acrescenta Barcellos.
O estudo utilizou técnicas de mineração de dados para avaliar a associação entre anomalias térmicas, fatores demográficos e mudanças nos padrões de incidência de dengue ao longo de um período de 21 anos (2000 a 2020) nas microrregiões do Brasil.