Tem som no microfone? Por enquanto, sim, e é importante que tenha agora porque é hora de celebrar a memória de um dos maiores gênios da música brasileira, que emulou tal fama em transas astrais e telúricas que ajudaram a moldar a cultura e identidade nacionais. Caetano Veloso faz 80 anos, e nesses 80 Caetanos a única obrigação é celebrar sua potência e seu legado.
Cumprindo o protocolo, o CORREIO abre essa homenagem especial com uma ilustração do artista visual Davi Caramelo, que pôs para brilhar uma imagem inspirada num dos clássicos do artista de Santo Amaro. “Pensei em uma forma de unir dois grandes eventos numa só imagem, como uma fotografia que capturasse o alinhamento de planetas, sem ocultar quaisquer partes de ambos. O discobjeto ‘Transa’ é para mim uma obra total, que perpassa o tratamento gráfico da capa, arranjos, composições e inúmeras referências e citações que seguem atuais e reverberam; são temas que ainda discutimos 50 anos depois”, explica o artista visual, que também é ilustrador e designer, formado em publicidade e propaganda e graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA.
Ele explica como desenvolveu a imagem, lançando mão de elementos que o próprio disco ‘Transa’, de 1972, oferece. “O design é disruptivo, tão inovador e minimalista que esqueceu dos créditos dos músicos. (…) Assim como as canções do disco, quis fazer essa ‘brincadeira’ de referências: uso a mesma letra da capa do álbum original, em verdade um redesenho da tipografia Spatz, do catálogo paulista Tipograph Fotoletras, que infelizmente não foi digitalizada. Trago a silhueta de Caetano, em um retrato atual, minimalista e esperançoso. Ele propositalmente olhando para o passado, como quem celebra um legado em construção, do qual sabe o valor como parte integrante da história e identidade nacional”, complementa Caramelo, que dentro do campo das artes visuais é autodidata e utiliza linguagens como a pintura, desenho, escultura e instalação para dar vazão a seu universo particular, tendo realizados cursos livres na Escola de Belas Artes da UFBA e no Paço das Artes em São Paulo onde foi aluno da artista brasileira Leda Catunda. Davi já participou de exposições coletivas em espaços de destaque, a exemplo de “Só Cabeças” e "Pertencentes", exibidas no MAM-BA em 2016 e 2017, respectivamente, além da participação na Affordable Art Fair, em Nova York. Sua obra ainda esteve presente na Embaixada do Brasil no México, e em cinco edições da Feira PARTE, em São Paulo, entre 2013 e 2018, além da presença em coleções privadas e públicas por todo o mundo.
Como se não bastasse a carreira de artista, Davi Caramelo também desenvolve trabalhos dentro da publicidade, ilustração e design – incluindo projetos realizados para empresas como Facebook, Coca-Cola e Nike. No campo editorial já teve ilustrações publicadas em revistas como a Superinteressante e PropMark. Realizou cartazes para longas metragens baianos como o documentário premiado "Jonas e o Circo sem Lona" dirigido por Paula Gomes, e "Filho de Boi" de Haroldo Borges e Ernesto Molinero além de capas de livro para diversos autores nacionais e internacionais como a mais recente para a autora alemã best-seller Anne Stern.
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