E a violência em Salvador?

Ciclista morto no Dique durante roubo. Nutricionista baleada durante assalto em Nazaré. Idosa atingida em fogo cruzado na Barros Reis. Agora, estudante morta em tentativa de roubo no Campo Grande.

Por mais que sejam casos autônomos para a polícia, a sensação de insegurança é generalizada em Salvador. Também não se deve contestar que a violência, sobretudo letal, atinja a capital baiana há tempos, não só no centro, mas, principalmente, nos bairros populares.

Em 2021, Salvador apareceu como capital de maior taxa de mortes violentas do Brasil. Em 2022, foi desbancada só por Macapá, onde o índice vem aumentando pela crescente violência do tráfico de drogas na Amazônia, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Ninguém é obrigado a saber estatística, mas deve notar que isso é alarmante. Essa taxa se refere ao número de mortes dividido pela população. Portanto, em Salvador, são assassinadas mais pessoas proporcionalmente do que em quase todas as capitais brasileiras. E ainda: a taxa soma tanto homicídios praticados por civis, quanto mortes provocadas pela polícia.

É nítida a subida dos índices nas regiões Norte e Nordeste do país, desde 2010, causada pela ação nacional do tráfico de drogas, que se deslocou do Sudeste para conquistar mercados e agrupar facções que já brigavam por aqui, principalmente nos grandes centros, como Salvador e Feira.

Agora, duas facções nacionais, uma de São Paulo e outra do Rio de Janeiro, não são mais somente fornecedoras de armas e drogas, mas atuantes localmente no Norte-Nordeste, como se fossem empresas responsáveis pelo ciclo completo da droga.

Os recentes casos envolvendo disputas a tiros em Salvador, inclusive com mortes de civis e policiais, além de assaltos a ônibus e roubos de celulares, demonstram que facções intensificaram seus domínios e diversificaram suas atividades, buscando novas formas de financiamento para suas “guerras”.

No entanto, a resposta da Bahia, à la brasileira, continua sendo de enfrentamento no bairro, mais do que inteligência e investigação contra chefes do narcotráfico, inclusive àqueles já presos e “na ativa”. Resultado: fogo cruzado, colocando em xeque a população e a própria polícia. Se câmeras não são instaladas nas fardas, mortes por intervenção policial continuam na casa das mil por ano, perdendo só para o Rio de Janeiro.

Enquanto houver vulnerabilidade social, principalmente juvenil, haverá comunidades sequestradas pelo tráfico. Enquanto houver decreto fomentando arma, haverá desvios para facções. E isso deixa Salvador violenta? Sim, e as ações do Estado não mudam. Cadê os especialistas? Ainda não foram consultados.

*Thiago Augusto Ferreira da Costa é doutorando em urbanismo e segurança pública pela UFBA e bacharel pela Academia Policial Militar do Paraná.

Correio 24hs

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